28 de dezembro de 2009

Sobre o que é impossível de definir - mas a gente tenta.

ah sim! antes tarde do que nunca: uma das coisas mais legais do filme "500 dias com ela" é que os dois protagonistas discutem qual é a melhor música dos Beatles. ok, tarefa quase impossível, na minha opinião. mas eu achei MUITO DOIDO a mocinha dizer que Octopus's Garden é sua preferida e que o Ringo é seu Beatle preferido. porque eu concordo com ela!! quando conheci essa música fiquei de cara e quase dei "tilti" no last.fm de tantas vezes que apertei o repeat. mas existem outras no páreo, apesar desta estar entre as melhores, com certeza.
então, aí vai:




esse Ringo é uma graça...

22 de dezembro de 2009

Portanto, nada mais apropriado:


Se eu morrer de novo
(Alberto Caeiro)


(...)
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela unica grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraido.

Sobre coincidência e destino.

Eu tô curtindo esse blog demais. Fato. Por mais que quase ninguém leia, é muito doido reunir as coisas bonitas e legais que eu vejo por aí.

Hoje eu assisti um filme: "(500)Days of Summer" e tô muito encantada. Achei uma graça. E, melhor ainda, achei doido o tipo de reflexão que o filme me propôs: tudo é só coincidência ou existe mesmo esse tal de destino? Não é a gente que força a barra e canaliza as expectativas em alguém? Apesar de existir a certeza de que eu quero um amor, um companheiro, como saber se ele chegou? E como saber se a sua história com alguém era pra ser um romance perfeitinho (e eles existem?) ou uma coisa toda atrapalhada, sem rótulos, sem definições, sem final feliz? Era pra ser? Muito interessante este filme ter me aparecido agora...

21 de dezembro de 2009

Eu não sei quem é o cara e nem se eu devia dar moral pra ele. Eu devia desconfiar, já que foi leitura de banheiro. Mas gostei do texto. Sou super a favor de trabalhar o silêncio, apesar de ser uma das que "fala pelos cotovelos".


Palavras cruzadas (Tião Martins)

Nunca ouvi alguém “falar pelos cotovelos”, embora autores festejados e de grande respeitabilidade registrem em seus livros tão estranha habilidade. Nem dá para imaginar como seria o som emitido por esta que é uma das partes mais discretas e menos valorizadas da anatomia humana, embora desempenhe papel importante na vida de certas pessoas.

Se aceitarmos o depoimento dos tais autores e acrescentarmos aquilo que aprendemos com a nossa própria experiência, há pelo menos três situações em que os cotovelos deixam de ser meros figurantes no espetáculo e ganham status de personagens centrais na comédia humana.

Em primeiro lugar, servem para que os bêbados contumazes escorem todo o seu peso sobre o balcão dos botecos. Já imaginaram quantos escorregariam para o chão, se não fosse essa invenção providencial do Criador?

Em momentos mais dramáticos, quando o portador acaba de levar um chega pra lá da mulher amada, é nos cotovelos que se concentra toda a mágoa pelo inesperado abandono. Aí, os cotovelos – que você nem lembrava que tinha – costumam doer.

E, finalmente, se acreditarmos na literatura, há seres humanos que falam pelos cotovelos (deputados, apresentadores da TV e pessoas do sexo feminino, estas últimas quando se referem às pechinchas que adquiriram ontem, se suspeitam da fidelidade dos maridos ou nas raríssimas ocasiões em que comentam os amores secretos das amigas, assim como as roupas e os sapatos que elas usam).

Os mineiros sempre tiveram fama de falar pouco, para não serem apanhados em flagrante cumprimentando alimárias quando nasce o dia. Mas tudo muda, para pior ou melhor, e hoje há mineiros e mineiras que falam demais, ainda que não esteja por perto um cavalo, para receber os votos de um dia feliz. Aliás, se considerarmos o conteúdo e a qualidade de certas conversas que a gente ouve por aí, seria muito mais útil falar com um cão, um gato ou um cavalo. Sei de gente que tira maior proveito desses colóquios que do tempo que gastam ouvindo o tagarelar de certas madames, que passam horas falando do funcionamento diário dos seus intestinos.

Não é por ser mineiro à moda antiga (ou talvez seja) que prezo a economia de palavras. É que considero a palavra das poucas coisas interessantes que inventamos, em milênios de peregrinação pela face do planeta, desde que assumimos a posição de macacos eretos.

Entretanto, se você testemunha dez minutos de conversa entre quatro pessoas de qualquer sexo, todas falando ao mesmo tempo e nenhuma delas ouvindo o que a outra diz, terá motivo mais que suficiente para concluir que a fala não foi invenção tão inteligente assim. Ou, se foi útil um dia, há muito deixou de ser.

Raramente se tem o prazer, em nosso tempo, de ouvir uma honesta troca de ideias. Da mesma forma que motoristas atropelam pedestres que impeçam sua velocidade, os conversadores elevam o tom de voz para calar os demais.

Não há mais interlocutores, no sentido que esta palavra teve antigamente, mas adversários ansiosos para derrubar o oponente. Como nas lutas de boxe, as palavras cruzam o espaço para encantoar o inimigo e empurrá-lo para as cordas, até que seja possível aplicar o golpe final e levá-lo ao solo. Ou ao silêncio.

Quando as palavras deixam de ser um espaço de sociabilidade e entendimento, para ganhar o aspecto de uma guerra (às vezes com troca de flechas envenenadas), dá vontade de conversar mansamente com uma galinha, um bezerro ou um camelo, que podem até não responder, mas pelo menos ouvem. Como diz o meu amigo doutor Fontes, advogado de mínima clientela e servo da palavra, das ideias e da expressão exata, “não é que as palavras perderam o sentido e o valor para a humanidade. É que hoje as línguas são autônomas, separadas do cérebro, e já não se faz gente como antigamente”.

20 de dezembro de 2009

ainda bem que tem gente que consegue expressar esses sentimentos. diminui a minha solidão.


Aflição de ser eu e não ser outra
(Hilda Hilst)

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

Sobre o que nunca acaba.

A primeira vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na infância
cortei o rabo de uma lagartixa
e ele continuou se mexendo.

De lá pra cá
fui percebendo que as coisas permanecem
vivas e tortas
que o amor não acaba assim
que é difícil extirpar o mal pela raiz.

A segunda vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na adolescência me arrancaram
do lado esquerdo três certezas
e eu tive que seguir em frente.

De lá pra cá
aprendi a achar no escuro o rumo
e sou capaz de decifrar mensagens
seja nas nuvens
ou no grafite de qualquer muro.

(Affonso Romano de Sant'Anna)

15 de dezembro de 2009

Presença. Forte que só ele.




"Hoje eu acordei com medo mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro eu via o infinito sem presente, passado ou futuro..."
Soma de malogros noves fora tudo
(Thiago de Mello)

Com o desperdício de cores,
selo o fim dos meus amores.
Amor pode ser começo
de si mesmo a cada instante.
Fico no fim que mereço.
Sei que perdi: me apostei
inteiro. Mas aprendi
que não dependo (e ninguém)
só de mim para me dar.
É repartido que posso
vir um dia a merecer
a flama ardendo serena,
que resolve a diferença
entre viver e morrer.
Sei que perdi. Mas ganhei.

14 de dezembro de 2009

A menina da bolsa amarela.

E eis que a menina da bolsa amarela volta com tudo. É ela, mas é outra. Volta com suas vontades enormes, com sua saudade infantil, com sua pureza bonita, quase triste. Mas sua presença, quase imperceptível ao longo dos anos, hoje é forte e intensa. Muito provável que alguém que não a tenha acompanhado de perto se assuste e diga que já não é aquela. Não a reconhecem. Não sabem eles que todo este tempo ela esteve em busca das mudanças, lutou por elas, consolidou-as. A menina da bolsa amarela busca, constantemente, descobrir que tipo de pessoa quer ser. E ela voltou. É outra, é verdade, mas ainda é ela. Quer sentir de novo vontades tão grandes que não cabem dentro dela. Quer de novo se emocionar ao ler histórias bonitas sobre a infância, a bondade, a imaginação. Quer, mais do que nunca, acreditar na felicidade e, até mais que isso, não duvidar ou pensar sobre ela: só senti-la. A verdade é que a menina voltou, crescida. Hoje ela anda mais leve, mais alegre, mais tranquila. Hoje ela compreende melhor o mundo a sua volta, tolera mais, perdoa mais, ama mais. A menina ama mais e demais. E este, ela descobriu, é o único remédio pra amenizar uma dor constante, nem sempre forte, que insiste em incomodar. Ela cresceu e isto dói. E a menina não consegue fazer parar de doer. Certas vezes, pelo contrário, o tal remédio, o amor, faz doer ainda mais e ela percebe que não há solução a não ser deixá-lo doer. É a espiral da vida, ela aprendeu. O tempo fez a menina da bolsa amarela crescer. Ele a fez sentir esta dor que não pára e a ensinou sobre o amor, a bondade e a saudade. Ele trouxe de volta as vontades da menina, que não querem mais ser guardadas em uma bolsa, ainda que lhe caia bem escondê-las. E só ele, o tempo, para levar essa dor, esse amor, essa dor de amor. É a espiral da vida, ela entendeu.