13 de julho de 2010

o meu lugar nisso tudo.

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Enquanto minha ida pra Londres se aproxima e se torna mais real, alguns sentimentos, que antes eu desconhecia - ou ignorava - começam a aparecer. Sentimentos quanto ao espaço da casa, da cidade, da língua, da cultura, que não serão mais os meus e darão lugar a casa, cidade, língua e cultura tão pouco familiares; quanto aos amigos e a família que ficam, às histórias que ficam e continuam sem mim.
Não é aquela história de valor tardio, de só valorizar depois que a perda acontece. Não é isso, não é isso que eu sinto.
Foram poucas as vezes, que eu me recordo, em que tive o sentimento de não viver e valorizar o que me rodeia. É claro que eu, como boa "católica não-praticante", não sou daquelas de longos e constantes agradecimentos. O que existe, de fato, é um "obrigada por esse edredon quentinho", um zelo pelo lar, uma tentativa de sempre estar bem onde estiver. Mais do que isso, me pego sempre admirada observando, pela janela do ônibus, a vida em BH: a correria das pessoas, os distraídos nos butecos, os trabalhadores até altas horas nos pontos de ônibus. Admiro o anonimato e me sinto contente em fazer parte disso, desses prédios, desse caos, dessa vida meio agitada, meio solitária. Acho bonito. Assim como fico perplexa com a beleza de uma noite de inverno em São Vicente, com o vento frio no rosto e o silêncio ao meu redor. E, mais uma vez, sorrio e digo: "obrigada". Pra seja lá quem me ouve!
E quando penso nos amigos e na família, não é diferente. Há muito tempo entendi que não é possível ficar pela metade nas ocasiões. Às vezes acontece, torna-se necessário, para manter certas relações. Mas não é nada agradável (nem para mim, nem para os outros) estar em uma festa de aniversário repleta de pessoas cheias de energia, quando na verdade eu gostaria de estar gastando meus ATPs assistindo a um bom filme. E o contrário também é verdadeiro. O que me propus, portanto, é ficar inteira nas ocasiões, aproveitar meu momento com as pessoas, ser sincera no meu relacionamento com elas. Como diria meu querido Renato Russo: "só apareço, por assim dizer, quando convém aparecer..."
Esta postura me ajudou a aceitar que não é possível ser amada por todos, até porque eu não gosto de todo mundo. Mas me ajudou a estabelecer relações sinceras e fortes com as poucas pessoas que compartilham ou aceitam a minha postura. Com os outros eu aprendi a "fazer sala" e a deixar que me conhecessem pelas beiradas.
O que me chama atenção, portanto, nesses sentimentos que vêm aflorando, não é a falta. Não é mais a pergunta: "mas e aí, quem fica disso tudo?". O que agora eu percebo, na verdade, é o quanto eu faço parte. O quanto minhas relações já foram estabelecidas, estando eu na Inglaterra, na China ou em Marte. Percebi que o trio "Marcela-Paulinha-Luiza" só será um trio com a Luiza. Que a turma de 2009 do Proef-2 sempre precisa do meu empurrãozinho pra marcar seus encontros. Que mesmo ocupadas, desocupadas, em outro estado, ou mamães, as amigas e os amigos que eu fiz neste projeto sempre me darão notícias. Que a turma de São Vicente me aceita mesmo saindo sem muita frequência e nem chegando perto da pinga. E por aí vai.
Cantando com a mulherada doida da família esse fim de semana, pude entender isso. Enquanto Paula Toller dizia

"nunca soube, nada saberei,
sigo sem saber
que lugar me pertence, que eu possa abandonar...
que lugar me contém, que possa me parar..."


eu também me perguntava ao som da música. A conclusão de que eu já faço parte dessas histórias, de que meu lugar existe, seja na família, com os amigos ou na dinâmica da cidade, me fez ficar contente. E, mais uma vez, agradecer.