Eu vou pra Londres em agosto.
Sim, é uma decisão. Já foi pensada, repensada, rerepensada, avaliada, negada, diminuída, abafada, reavaliada, considerada, sonhada, esperada, desejada, decidida.
Foi um parto. Assim como escrever trabalhos sobre a Sociedade Colonial “em pelo menos 20 páginas” ou ler todos os textos de Historiografia Brasileira para a prova do dia seguinte.
É verdade que foi menos dolorido, mas o peso foi igual. Era eu comigo mesma, sabe? Era o momento em que eu finalmente seria sincera comigo: eu não quero um emprego formal (pelo menos não agora!), eu não quero dar aulas, eu não quero estudar mais, eu não quero estabilidade!
E eu precisei ter muito peito pra dizer isso, o que, convenhamos, é um problema pra mim (ai ai, adoro trocadilhos!). A cobrança nunca foi explícita. Mas existe. Existe em cada conversa com conhecidos em que te perguntam se você já se formou, se vai tentar mestrado e o que vai fazer da vida. A melhor parte da conversa é aquela em que te comparam com um colega, aquele mesmo, da sua idade, que está super bem empregado em uma multinacional.
Sério: foda-se.
Aposto toda a minha coleção de vinis que meu curso foi muito mais bem empregado do que o da metade dessa galera “bem sucedida” aí. Só porque a partir de 2010 eu resolvi não usar formalmente a Licenciatura em História, que me foi dada em 2009 por João Pinto Furtado (sim, uma dó terem roubado isso dele...), não quer dizer que eu já não tenha usufruído de milhões de coisas que ela pôde me oferecer durante os cinco anos que freqüentei a FAFICH.
E agora eu poderia falar das tantas coisas que a graduação me ofereceu. Poderia falar do espírito crítico que eu desenvolvi (e agora a Lê se pergunta: “mais?”); da minha capacidade de análise de um contexto; da minha habilidade para me expressar; da minha compreensão, e incômodo, sobre a realidade brasileira; da minha necessidade de dividir este crescimento com Jovens e Adultos interessados; da minha capacidade de me relacionar com as pessoas; dos inúmeros, verdadeiros e apaixonantes amigos que eu fiz na UFMG e, até mesmo, da minha capacidade de picaretar e encher lingüiça lindamente em um texto.
Mas detalhes não são necessários. Isso tudo é meu, sabe? A minha relação com a História não é fácil, nem de entender nem de esquecer. E foi forte e importante. Mas, por hora, ela não será o centro da minha vida. E talvez nunca mais seja. Quero me dar o direito de ter tempo para descobrir.
Eu quero, finalmente, não me encaixar. Não quero corresponder às expectativas de ninguém, não quero ser comparada, não quero estar “como todo mundo”, não quero fazer planos “para quando eu for feliz”. Eu quero me perder para me encontrar.
Sempre foi tudo muito certo, sabe? Eu preciso não saber falar, não saber onde, não saber como... Eu quero isso! E tenho dito.
Eu quero mais é tirar foto na frente do Big Ben (de cachecol!); descer a “Portobello Road” no melhor estilo Caetano Veloso, a caminho do “sound of reggae”; comer “Fish and Chips” e blueberry; ver neve e aprender a valorizar os dias de sol.
É isso o que eu quero. E nada eu quis tanto em toda a minha vida. E eu nunca fiquei tão feliz por afirmar uma coisa pra mim.