15 de janeiro de 2010
"Será que a sorte virá num realejo?/ Trazendo o pão da manhã/ A faca e o queijo/ Ou talvez... um beijo teu/ Que me empreste a alegria... que me faça juntar/ Todo resto do dia... meu café, meu jantar/ Meu mundo inteiro.../ que é tão fácil de enxergar... E chegar
Nenhum medo que possa enfrentar/ Nem segredo que possa contar/ Enquanto é tão cedo/ Tão cedo
Enquanto for... um berço meu/ Enquanto for... um terço meu/ Serás vida... bem vinda/ Serás viva... bem viva/ Em mim
Será que a noite vira num vilarejo/ vejo a ponte que levara o que desejo/ admiro o que há de lindo e o que há de ser... você
Enquanto for... um berço meu/ Enquanto for... um terço meu/ Serás vida... bem vinda/ Serás viva... bem viva/ Em mim"
"Os opostos se distraem
Os dispostos se atraem"
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Porque essa musica me transmite um misto de tristeza e beleza, quase uma alegria por estar triste e ela me da uma saudade danada de um sentimento de completude que eu experimentei poucas vezes na vida. E porque eh exatamente isso ai que eu to sentindo hoje: uma saudade danada.
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ps1: amanha eu vou pra praia. \o/
ps2: a interrogacao voltou pro teclado e se foram os acentos...
14 de janeiro de 2010
Por não estarem distraídos
Clarice Lispector
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
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Porque descobrir que eu sou a “ela” do texto de alguém me deixa reconfortada: minha solidão tem companhia.
Clarice Lispector
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
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Porque descobrir que eu sou a “ela” do texto de alguém me deixa reconfortada: minha solidão tem companhia.
11 de janeiro de 2010
"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!"
Florbela Espanca, em "Cartas a Guido Battelli".
Se ela tivesse me conhecido a gente seria melhores amigas. Certeza.
Florbela Espanca, em "Cartas a Guido Battelli".
Se ela tivesse me conhecido a gente seria melhores amigas. Certeza.
6 de janeiro de 2010
Ano novo?
Quase uma semana depois da "passagem" eu ainda acho que a poesia que vai abaixo vale. Vale porque é isso aí mesmo que o Drummond fala: a mudança da data não é nada se não houver uma mudança dentro da gente. Portanto, acho super possível que o ano novo aconteça em pleno agosto, num dia bem cinzento. Eu, particularmente, estou usando esta data convencionada como marco de algumas mudanças na minha vida. Comecei o ano formada, desempregada, desabrigada, desorientada, desamada - mas não desalmada, o que garante o meu otimismo. Talvez eu tenha que aprender a conviver com a falta, com a incerteza, com a insegurança. E, mais ainda, talvez eu precise aprender a sustentar essa falta, pra ver no que vai dar, pra ver como eu me viro com ela, pra ver como é melhor o vazio consciente do que o vazio fingidamente preenchido, oco. É isso.
Eu realmente espero que esse marco, 2010, seja uma mudança e leve todas as coisas mais ou menos que o marco anterior trouxe. À parte os desejos para as pessoas que eu gosto, eu desejo do fundo do coração viver um ano com emoções, de todos os tipos, para nunca me esquecer de que é pra isso que eu estou aqui, para sentir.
No fim do ano, novo balanço.
Eu realmente espero que esse marco, 2010, seja uma mudança e leve todas as coisas mais ou menos que o marco anterior trouxe. À parte os desejos para as pessoas que eu gosto, eu desejo do fundo do coração viver um ano com emoções, de todos os tipos, para nunca me esquecer de que é pra isso que eu estou aqui, para sentir.
No fim do ano, novo balanço.
Receita de Ano Novo
Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ver,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta ou recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ver,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta ou recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
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